quarta-feira, 17 de novembro de 2010

"Atrás da cebola de vidro."


(Izadora Luz)


 Sentei no frio do inverno e pensei nas coisas inversas que me tornaram o oposto de você. Assim um sol sem brilho e o calor é pouco pra aquecer as vértebras dos sonhos que caíram no mar sem céu. Alguns olhos fundidos de ouro com carvão e carbono olham o meu rosto vazio de mim e se fecham. O amor bate na porta de noite, pede café de manhã, pede abrigo nos dias de chuva. Eu só quero que ele morra de frio, de fome, de amor. E a neve ganha passagem para o frio aqui de dentro, para o frio do coração branco como neve. Alguns cigarros se fumaram na minha boca, alguns pulmões morreram sem ar e foram os meus. E em alguns dias tristes, piores que esse, eu vou lembrar que enquanto a neve cai eu me lembro de você. E eu vou lembrar que a neve caiu, a neve parou, eu sentei no calor e pensei... Em você. E em algum dia feliz eu vou lembrar o sol projetando a penumbra dos nossos corpos unidos por um amor, talvez amor, que esfriou assim que a lareira ficou com menos lenha. Fecho os olhos e vejo o mesmo escuro do dia, o mesmo escuro de mim que me segue onde quer que eu vá. Alguma coisa triste dos olhos cai, e eu não sei dizer se é lágrima, não sei se quero dizer se é lágrima. É lágrima. Eu contaria os meus pecados se pudesse igualá-los a perdões, eu contaria as gotas que caíram do céu do azul dos olhos se pudesse repor o que se foi com ar, e vento. Eu contaria os passos até o seu corpo se depois eu pudesse contá-los de volta para mim. E eu contaria a falta, a saudade, a tristeza, se soubesse uma matemática infinita que os matemáticos não descobriram. E quem ama sabe...

 (Natália Santos)

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